Fundada em 1992, em Felgueiras, pelas mãos de António Ferreira, a Bolflex é uma das maiores empresas portuguesas especializada no setor dos componentes para calçado. Atualmente assume-se como o maior fabricante de solas de borracha e líder no mercado europeu.António Ferreira é um empresário experiente, dinâmico e carismático que está sempre pronto para um novo desafio. Inovação e investimento são as palavras de ordem na sua vida e também nos negócios. A Bolflex acaba de lançar no mercado produtos reciclados e o seu modelo de negócios está assente em três palavras-chave: REDUZIR, REUTILIZAR, RECICLAR.
Como em todas as histórias, também o início desta empresaviveu as suas dificuldades e enfrentou muitos desafios.” Tive muitos durante a minha vida, mas o meu maior desafio, o pior de todos, aconteceu em novembro de 1991, tinha acabado de constituir esta empresa e comprado a minha primeira casa. Eu não tinha nada. Na altura, tive que comprar as primeiras máquinas para poder começar a trabalhar e a verdade é que três meses depois estava com dívidas a rondar os 450 mil euros, com a agravante de ter a minha mulher desempregada e dois filhos ainda muito pequenos. Mas o que podia fazer? Consegui resolver tudo com muito trabalho e dedicação. A verdade é que passei por momentos muito difíceis na minha vida,que não desejo a ninguém”, conta António Ferreira sobre o início da Bolflex, enumerando os problemas que teve que enfrentar para alcançar o sucesso e o reconhecimento que hoje o diferencia e destaca neste mercado.
“Eu sempre fui uma pessoa que nunca teve medo de nada e a verdade é que hoje está a acontecer tudo o que eu tinha previsto vários anos antes. Há um livro, que foi lançado em 1995, na Câmara Municipal de Felgueiras, em que dizia tudo aquilo que acabou por acontecer”, diz o empresário, que não aceita o rótulo de visionário, preferindover-se como um homem de ação, com grande força interior, resiliência e determinação, acreditando ser capaz de ultrapassar cada obstáculo que a vida lhe foi colocando no seu caminho. “Sempre fui uma pessoa que teve uma estrelinha ao seu lado. Acima de tudo é preciso ter sorte ao longo da vida. Às vezes pergunto-me como fui capaz de certas coisas”. Naquela altura, e vindo de uma família numerosa e de parcos recursos, o sonho e a vontade de agir, fizeram com que conseguisse comprar as primeiras quatro máquinas e desse inicio à Bolflex, que anos mais tarde viria a dar um volume de negócios de nove milhões de euros. É com este forte empreendedorismo e capacidade de inovar que tem conduzido a empresa ao sucesso que hoje apresenta. Orgulhoso daqueles que o acompanham neste projeto, os seus 140 funcionários, alguns deles amigos de uma vida. “Tenho aqui pessoas que trabalham comigo há 30 anos. Foram meus colegas de escola e de trabalho. Estamos sempre a trabalhar, a pensar e inovar”, diz o responsável pela Bolflex, que investe muito do seu tempo em encontros com a equipa de designers e especialistas para discutir novas ideias e novos produtos.
Inovação e investimento
Desde a sua origem que as palavras-chave da Bolflex têm sido Inovação e Investimento. A empresa apresenta hoje um conceito de One Stop Shop, sediando no mesmo local os gabinetes de Design, Desenvolvimento de Produtos, Prototipagem, Amostras e Serralharia de Moldes. Este processo vertical vai desde o desenvolvimento do produto à entrega final. Não depender de outros intervenientes nesta cadeia produtivaé o grande diferenciador desta prestigiada marca portuguesa, permitindo assim que sejam um dos fornecedores mais eficazes, rápidos e competitivos da indústria do calçado.
“Há muita concorrência, mas não com a nossa qualidade e inovação. Na escola onde andei, andaram muitos dos meus colegas. Não é muito difícil fazer solas. Fazer uma sola com o complemento, que utilizamos, que é o lixo, oplástico e outros resíduos é que é inovador”, conta o criador e responsável da Bolflex, sublinhando que os sapatos que criam estão presentes nas grandes feiras de calçado, como as reconhecidas mundialmente de Paris e de Milão.A direção da empresa trabalha de uma forma muito próxima com cada um dos setores para que o produto final esteja o mais perto possível da perfeição e do gosto do cliente.
Experiência e know-how
A fazer de encarregado ou junto do departamento de design, o trabalho não tem mistério para António Ferreira, que há três décadas montou uma inovadora fábrica que conta com tecnologia de ponta e colaboradores com muita experiência e know-how.
“Fizemos um autêntico milagre com esta fábrica. O desistir é a parte mais fácil. Partiram-se muitas máquinas e moldes, mas seguimos sempre em frente”, explica o empresário, admitindo que é no processo tentativa-erro que está o ganho.
A família é a sua principal base, tanto na vida pessoal como nos negócios. Se ao lado da mulher montou a fábrica, orgulha-se de ter a seu lado os três filhos, envolvidos e empenhados nos projetos da reciclagem, como no da moda e dos pneus, algumas das suas mais recentes iniciativas. Contudo, António Ferreira ambiciona que a empresa se torne ainda maior. Atualmente as instalações de produção das solas e da reciclagem encontram-se na mesma unidade fabril, mas aponta para mudanças e ampliações a curto prazo, dada a franca expansão da Bolflex, que é hoje responsável por uma quota de mercado a nível nacional de 64 por cento e exporta 36 por cento da sua produção. A Bolflex tem parcerias com várias empresas multinacionais e, muitas outras, há que se querem associar, pela sua reconhecida inovação tecnológica e de design.”Não posso perder o meu foco, tenho de estar constantemente atento, porque sinto esta pressão da procura. Como somos os únicos que têm esta patente, a procura por parte dos meus clientes das grandes marcas, é muita”.
Inovação Tecnológica premiada e distinguida
A Bolflex tem tecnologia instalada composta por 32 máquinas de injeção de borracha e uma capacidade de produção de 20.000 pares/dia. Para responder às exigências atuais, criaram novas coleções com materiais inovadores, como é o caso do X-Light, B-Light, T-Light, T-light Gel edo Eco-Rubber.”Estamos a tratar o lixo e daqui a um ano vou ajudar a limpar a cidade. Hoje, produzimos muito lixo, cerca de 30 toneladas por ano. Estamos a tratar o nosso próprio lixo e o de muitas outras empresas. Além da responsabilidade pelo meio ambiente também temos a vertente económica. Estou seguríssimo que não vai haver outra oportunidade como esta. Hoje transformamos o lixoem arte, moda, decoração, revestimentos, pneu, e outros projetos virão”, refere. Assim nasceu em 2013, a RUBBERLINK. Esta nova empresa, associada da Bolflex, é patenteada na reciclagem de materiais.Toda a borracha utilizada pela empresa é produzida internamente. Valoriza os resíduos de borracha recorrendo à desvulcanização e reciclagem dos mesmos para reintrodução num novo processo produtivo, conseguindo resultados muito próximos à borracha virgem.
Reutilizando sapatos velhos, comprados aos Estados Unidos da América, plástico e lonas, a empresa transforma outros produtos como: pneus novos, glamorosas carteiras ou moldes. Este trabalho inovador já lhes valeu vários prémios e certificações.
A inovação em desvulcanização de sapatos usados para fazer novos produtos tais como sapatos novos e palmilhas, é uma patente que pertence à Bolflex. Até o alumínio é reaproveitado para a produção de novos moldes. A Bolflex possui também dentro de portas um sistema de fundição dos moldes que permite o reaproveitamento dos mesmo para a produção de novas unidades para injeção de solas.
Importa referir que a marca portuguesa Bolflex foi certificada como uma marca vegan, pela organização dos direitos dos animais (PETA). A empresa disponibiliza assim de um conjunto de solas e outros materiais para a parte superior dos sapatos sem qualquer produto de origem animal. Ainda em relação a este assunto Mara Ferreira, filha do empresário, acaba de lançar uma nova marca de carteiras Vegan e personalizáveis, My Cute Pooch. Por outro lado, a Bolflex foi distinguida pelo Centro Tecnológico do Calçado de Portugal, com o Prémio Inovação Tecnológica Fileira do Calçado 2012 na categoria de ‘Materiais e Componentes’ com uma sola que incorpora 45 por cento de borracha reciclada, sem perda de características técnicas, uma percentagem muito significativa e superior ao que atualmente utilizam as empresas que apostam na reciclagem da borracha para produção de solas, com níveis de resistência consideráveis e níveis de substâncias químicas que não são nocivas à pele do utilizador e do ambiente. A Bolflex não é apenas inovadora ao nível dos produtos mas também a nível tecnológico. Em 2010, foi distinguida pelos prémios GAPI na categoria de “Bens de Equipamento”, com um processo automatizado de produção de solas de borracha vulcanizada por injeção, com um rasto de elevado detalhe e com uma redução do tempo de produção de 1/3 comparativamente com o processo tradicional.
“Mais recentemente iniciamos a recolha das borras de café, que é reutilizada para produzir solas e para a parte do cabedal que parece uma imitação da pele. Outro projeto que temos em mãos e que vai ser posto em prática brevemente, é o de recolher a chiclete, que abunda pela cidade. Outro grande desafio refere-se ao alcatrão, e já estamos com um pé lá dentro …”, revela o empresário, sublinhando que é vital ter presente a defesa ambiental e a reciclagem, rumo à Economia Circular, sendo esta a preocupação desta empresa que tem como um dos principais objetivos a reduçãodapegadaambiental.
Futuro: objetivos e desafios
Em entrevista à Revista Qualidade e Inovação, António Ferreira desvendou ainda alguma das iniciativas que tem programadas para um futuro próximo, desde logo apontando um dos seus motes: inspirar outros empresários a ‘limpar Portugal’.
O investimento tanto em recursos materiais, como na especialização do capital humano, são muito importantes para apresentar um produto de excelência, tecnológico e inovador, já que foram adquiridos robôs de alta qualidade para a produção de solas de prototipagem rápida. De resto, nos últimos anos, a empresa registou um forte progresso em relação à gestão e redução de resíduos através do desenvolvimento e aquisição de máquinas de injeção de borracha, que reduziram pela metade o desperdício de produção das solas. Assumindo como objetivo maior garantir aos seus clientes que é o parceiro mais inovador, eficaz, comprometido e confiável, António Ferreira reitera que quer fazer parte do sucesso dos seus clientes.
O empresário aponta preocupado para as dificuldades que existem na conciliação entre as causas ambientais e a normal necessidade que as empresas têm de ter lucro no final do mês. “Este risco não é só meu. Agora é meu e dos meus filhos”, vinca o empresário que acredita que a lei portuguesa protege pouco as empresas.
Fora do ambiente de trabalho, a família assume um papel imperial na vida de António Ferreira, pai de três filhos, avô, e marido dedicado. “Nos poucos momentos livres que tenho procuro vivê-los com a família, mas a verdade é que tenho sempre o telemóvel ligado para estar sempre disponível tanto para o cliente como para a atividade da empresa. Durante as minhas pausas também me deixo invadir com novas ideias”, conta Antonio Ferreira, este homem de sonhos tornados realidade, que arrisca dizer que nada o para e que “o céu é o limite”.
