O CENFIM – Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica – prima pela aposta incessante numa formação profissional à medida. Manuel Grilo, diretor nacional do CENFIM, fala sobre a missão, os prémios, assim como a vontade de continuar a evoluir num mundo cada vez mais digital e tecnológico.
Conte-nos a história do CENFIM.
O CENFIM foi criado a 15 de janeiro de 1985 criado por protocolo com base num decreto-lei de 1984. Esse decreto era intitulado de Formação em Cooperação, e visava dotar o país com instrumentos que pudessem corresponder, nomeadamente para a boa utilização das ajudas de pré-adesão à Comunidade Europeia.
Surgiu a oportunidade de criar os Centros Protocolares em que todos têm uma área em comum: terem na sua gestão parceiros sociais e o Estado. Nos primeiros anos foram construídos cerca de 25 centros e o CENFIM foi um deles. Trabalhamos para a área da Metalomecânica e para responder às necessidades de qualificação dos profissionais do setor da Metalurgia e Metalomecânica.
Que estratégias definiram desde o início?
Desde a sua criação, definimos estratégias de atuação para o futuro que estiveram ligadas ao nosso crescimento. Na altura, aquilo que definimos tornou-nos naquilo que somos: o maior centro de formação do país, seja setorial, seja a todos os níveis. A estratégia foi pôr a formação onde ela faz falta e, para isso, implementamos núcleos de formação ao longo dos anos nas áreas do país onde está a indústria de Metalúrgica e Metalomecânica, como é o caso de Lisboa, Porto, Marinha Grande, Santarém, Trofa. Fomos crescendo, mas sempre nas regiões onde está a indústria. Estamos implementados, praticamente, no Litoral.
Hoje em dia, contamos com 13 centros de formação, que vão desde Arcos de Valdevez, Trofa, Amarante, Porto, Ermesinde, Oliveira de Azeméis, Marinha Grande, Santarém, Torres Vedras, Lisboa, Caldas da Rainha, Peniche, Grândola e Sines.
Como descreve a evolução deste setor em Portugal?
A nível da economia, a indústria da Metalomecânica destaca-se por ser a principal indústria transformadora, nomeadamente no ramo das exportações.
Antes da pandemia, houve um crescimento tão grande que atingimos os 20.000 milhões de euros.
Queremos valorizar este setor, pois são cerca de 20.000 empresas, a nível nacional, e mais de 200.000 trabalhadores.
Podemos afirmar que o setor cresceu muito nestes últimos anos e adaptou-se à realidade das novas tecnologias. Em primeiro lugar colocamos a formação junto das empresas e em segundo lugar fazemos aquilo que as empresas precisam, por isso acompanhamos a implementação das novas tecnologias para podermos estar um passo à frente daquilo que é a situação média da indústria.
Como caracteriza a formação implementada pelo CENFIM?
A formação é bastante prática e com o manuseamento em equipamentos, como por exemplo a soldadura, a automação e a maquinação pois neste setor só poderia ser assim. Porém, há partes da formação que podem ser feitas à distância.
O CENFIM tem apostado na inovação tecnológica, mas também na inovação pedagógica. Por isso, participamos em projetos comunitários e desde o início apostamos em projetos de cooperação transnacional.
Participamos no WorldSkills, nos campeonatos nacionais, europeus e mundiais das profissões. Desde 1950, Portugal e Espanha foram os primeiros países a juntarem-se e a fazerem concursos de formação profissional. Hoje em dia já são mais de 80 países que promovem de dois em dois anos uma competição, o Campeonato Mundial das Profissões que cobre 50 profissões. A próxima será em 2022, em Xangai.
Incentivei a participação nestes campeonatos, porque permite medir a qualidade da nossa formação e permite-nos evoluir, uma vez que os nossos formadores vão e têm sempre a apetência para fazer mais e melhor. Tem sido uma grande aposta do CENFIM, tanto que mais tarde surgiu o EuroSkills – europeus, que este ano aconteceu em Graz, na Áustria e contou com a presença da seleção nacional portuguesa das profissões, representando 15 profissões em que competiram os campeões nacionais. Recebemos várias medalhas, com destaque para a medalha de ouro atribuída ao CENFIM, na profissão de CAD – Desenho Assistido por Computador – e ganhamos medalhas de excelência em diversas áreas.
Podemos concluir que temos a maior representação e o maior número de medalhas, o que reflete a formação de qualidade que desenvolvemos. Tem sido uma aposta muito grande e temos tido bons resultados.
Quais são os principais desafios que têm enfrentado na indústria da Metalúrgica e Metalomecânica?
No âmbito do conhecimento público, a notoriedade do setor não é aquela que ele merecia. As pessoas têm uma ideia errada do setor. Entramos numa oficina ou numa empresa de metalomecânica e percebemos que efetivamente houve uma evolução nas tecnologias. As tecnologias hoje não são as máquinas, mas sim o nível de conhecimento e a nossa missão é apoiar a própria indústria. Prova disso é que as empresas tecnológicas estão a instalar-se em Portugal pela competência das pessoas e vão ser um grande valor acrescentado.
Uma vez que em Portugal a mão de obra é escassa, temos como parceiros os PALOP para que seja possível recrutar mão de obra qualificada para a indústria nacional e apoiar as empresas portuguesas que se queiram instalar nesses países.