O gabinete de arquitetura Pardal Monteiro – Arquitectos conta com uma história que remonta a 1919, ano da fundação do atelier do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro. Desde 1957 é o arquiteto António Pardal Monteiro (1928-2012) que dá continuidade e a partir de 1979 são os filhos João Pardal Monteiro e Manuel Pardal Monteiro que com ele dão continuidade ao gabinete, aliando a qualidade e o rigor que sempre tiveram à estética das correntes arquitetónicas do presente.
Têm uma história que vem desde o século XIX. Fale-nos um pouco sobre o trajeto da Pardal Monteiro – Arquitectos.
O nosso atual gabinete de arquitetura é uma sequência do atelier Porfírio Pardal Monteiro, não há qualquer dúvida. Nasceu ainda no século XIX mas viveu durante o século XX e iniciou atividade em 1919. Começou a atividade logo em força e pouco tempo depois dirigiu e projetou muitas das obras da Caixa Geral de Depósitos. Portanto, teve uma escalada muito grande, até no tempo de Duarte Pacheco, com todas as obras públicas. Já tinha muitas obras mas quando projetou a estação do Cais do Sodré chamou a atenção da sociedade portuguesa para a sua modernidade. Foi uma das obras mais emblemáticas, que decorreu em 1925 e correspondeu a uma grande mudança na arquitetura, em Lisboa. No mesmo ano, em 1925, aconteceu a Exposição “des Arts Décoratifs et Industriels Modernes”, em Paris, que os arquitetos portugueses visitaram ou tiveram notícias, e o que no caso do Pardal Monteiro teve uma influência fundamental.
Porfírio fazia parte das organizações internacionais de arquitetos das quais algumas vieram a pertencer à direção e tinha ido aos congressos internacionais dos arquitetos. Era portanto um dos arquitetos portugueses mais bem informados e quando em 1925, Fausto Figueiredo ficou com a exploração da linha de Cascais e foi ter com ele para que fizesse uma estação muito simples foi o que o arquiteto quis ouvir para poder pôr em obra as suas ideias modernistas. Depois da inauguração da estação do Cais do Sodré foi contactado por Duarte Pacheco para fazer o projeto do novo Instituto Superior Técnico.
Posteriormente, começou a ter muitas obras, tanto públicas como privadas, e foi um grande atelier em Portugal.
O Porfírio era o mais novo de três irmãos e conheceu grandes nomes da arquitetura como Ventura Terra e José Luis Amorim que, naquele tempo, iam escolher a pedra para as suas obras com o seu pai, industrial da pedra em Pero Pinheiro. Este convívio incentivou-o para aos 14 anos querer ir para Lisboa, para os estudos gerais de artes, na Escola Superior de Belas Artes, dando seguimento à sua vontade de ser arquiteto. Começou a estudar muito jovem e ao mesmo tempo foi estagiar para o atelier do arquiteto Ventura Terra. Foi quando terminou o curso em 1919 que abriu o seu próprio atelier. Teve uma vida agitada, porque teve um percurso internacional repleto de congressos.
Quando Porfírio morreu em 1957, vítima de uma doença grave que o incapacitou, o meu pai, António Pardal Monteiro, assumiu a responsabilidade pelo atelier. Nessa altura estava a desenvolver
obras como: a Faculdade de Direito, Faculdade de Letras, a Reitoria que ainda estava em projeto, a Biblioteca Municipal e os hotéis Ritz e Tivoli.
Com a conclusão destas obras, o meu pai diminui o tamanho do atelier, pois não tinha o mesmo volume de obras do atelier de Porfírio. Saíram do Largo de S. Carlos e vieram para o nosso atual espaço.
Isto para dizer que o atelier nunca parou, teve sempre uma sequência. Mais tarde eu e o meu irmão começamos a trabalhar com o meu pai.
No presente, que obras estão a ser desenvolvidas pelo vosso gabinete de arquitetura?
Atualmente, estamos a fazer uma série de obras públicas. Neste momento, estamos a remodelar, em termos energéticos, a Escola Nacional de Saúde Pública que foi feita pelo meu pai.
Estamos a fazer o projeto de remodelação do Palacete da Cova da Piedade, que é um edifício classificado e não se pode alterar, mas são obras muito importantes do ponto de vista da conservação do edifício.
Outras obras interessantes recentes foi a remodelação dos Paços do Concelho de Almada,
Temos bastante trabalho de remodelações e obra nova para clientes públicos e clientes privados e normalmente os nossos clientes são clientes a longo prazo o que nos permite continuar com a qualidade da obra.
Com clientes de projetos muito antigos, iniciados por Porfírio Pardal Monteiro, temos apenas a Biblioteca Nacional, em que o meu pai e eu fizemos a ampliação e neste momento continuamos a ter pequenas intervenções, tentando garantir a qualidade da obra inicial.
Quantos elementos constituem a equipa?
Temos seis colaboradores e existe uma relação muito pessoal com todos os arquitetos. Além disso, temos também estagiários do IEFP que quando terminam o estágio, por norma, ficam a trabalhar connosco.
São a quarta geração que abraça este projeto com uma história notável de dedicação à arquitetura. Que características preservaram ao longo deste tempo e que mantêm no vosso quotidiano?
Ao longo destas quatro gerações temos algo que não se perdeu. O cuidado com o pormenor, o cuidado com os espaços para serem vividos pelas pessoas, continua. Isto vem desde o tempo do Porfírio. É uma escola e isso é o que passou de geração em geração. A estética obviamente muda, porque as gerações também se alteram com as correntes arquitetónicas. Agora, o cuidado no projeto, no pormenor, no rigor são alguns dos pilares básicos que garantimos a quem vem ter connosco. Isso é um orgulho, porque vem desde 1919 assim, o que requer que tenhamos sempre projetos muito detalhados e bem organizados.
Ao falarmos em tecnologia na arquitetura é inevitável não focar no tema BIM. Esta tecnologia fará parte das ferramentas da Pardal Monteiro – Arquitectos?
Desde o tempo do arquiteto Porfírio que o atelier tenta utilizar uma tecnologia bastante atualizada e hoje em dia não é exceção.
Já utilizamos o sistema BIM, fizemos formação aos nossos colaboradores e queremos que em breve seja utilizado em todos os projetos.
1998_2008_campus tagus park
O BIM é muito importante no projeto de execução. Temos de começar de uma forma mais simples, mas à medida que vai evoluindo para projeto de execução, então aí o BIM, que é essencial. Hoje em dia, não se concebe fazer um projeto de execução sem entrar no BIM.
Já fizemos projetos em BIM, de menor dimensão, e agora estamos a implementar a execução de todos os projetos em BIM.
Por onde passa o futuro da Pardal Monteiro – Arquitectos?
Espero que o futuro traga a continuidade com uma nova geração. O meu filho Tomás quando acabou o curso, esteve a trabalhar na Suíça e agora decidiu voltar e já está a trabalhar conosco.
Mais importante, é salientar que a arquitetura tem de ser feita para ser vivida pelas pessoas, não apenas para ser vista. A arquitetura é muito mais o espaço que nós vivemos do que apenas a nossa casa e nesse espaço, às vezes, as pessoas esquecem-se desse lema. A qualidade da arquitetura tem sido outro dos lemas que seguimos, tanto na qualidade dos próprios edifícios como na qualidade técnica dos edifícios.
Por fim, gostaríamos de convidar os leitores a visitarem a exposição do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro, em Sintra, com portas abertas desde o dia 3 de novembro de 2023 a janeiro de 2024.