DRª INÊS CRAVO ROXO – “SAÚDE MENTAL: NORMALIZAR A PROCURA DE AJUDA É CUIDAR DE SI”


INÊS CRAVO ROXO, PSICÓLOGA CLÍNICA ESPECIALIZADA EM ADIÇÕES, TERAPIA DE CASAL E SEXOLOGIA, ALERTA PARA A NECESSIDADE DE NORMALIZAR A PROCURA DE APOIO PSICOLÓGICO EM PORTUGAL. SEGUNDO A ESPECIALISTA, AINDA EXISTEM MUITOS TABUS E PRECONCEITOS QUE IMPEDEM QUE AS PESSOAS ENFRENTEM PROBLEMAS EMOCIONAIS E RELACIONAIS DE FORMA SAUDÁVEL.

QUEM É INÊS CRAVO ROXO E DE QUE FORMA INICIOU O SEU PERCURSO NA PSICOLOGIA?

Eu sou psicóloga clínica. Inicialmente, estudei arquitetura, e é daí que vem a minha paixão pela “arquitetura da mente”: assim como organizamos espaços na arquitetura, ajudamos as pessoas a organizar de forma harmoniosa o que está na sua cabeça, promovendo o bem-estar psicológico. Comecei a minha carreira na área das adições, numa comunidade terapêutica de álcool e drogas, especializando-me em adições químicas e comportamentais e, posteriormente, passei para clínica privada onde me vim a especializar em terapia de casal. Trabalhar com casais trouxe-me também a área da sexologia, que continua a ser tabu em Portugal.

O DIA MUNDIAL DA SAÚDE MENTAL TEM ALGUM PAPEL NESTE CONTEXTO?

Sim, campanhas como esta ajudam a normalizar estas problemáticas. Pedir ajuda não é fraqueza, é cuidar de si. Também é uma oportunidade de consciencializar sobre prevenção e sinais de alerta, incluindo para situações extremas, como pensamentos suicidas. A recente criação da linha do 1411 é um passo importante, ajuda mas não resolve. Muitas pessoas, isoladas e sem apoio, vêem a única solução como desaparecer, e é exatamente aí que intervenções de proximidade fazem a diferença. Que práticas diárias podem proteger a saúde mental?

EXISTEM TRÊS PASSOS FUNDAMENTAIS:

1 – Pausas: reservar momentos só para existir, respirar, desligar de estímulos e redes sociais;

2 – Cultivar relações: investir em amizades e laços familiares em que podemos ser autênticos;

3 – Rotina de autocuidado: manter o sono regular, alimentação equilibrada, exercícios físicos e pequenas mudanças consistentes que promovam o bem-estar sem abandonar a própria identidade.

A SAÚDE MENTAL NO TRABALHO É HOJE UM TEMA DISCUTIDO, MAS AINDA HÁ DESAFIOS…

Sim. O burnout muitas vezes não surge apenas no trabalho, mas em toda a vida das pessoas, que acumulam responsabilidades profissionais e pessoais. É essencial que líderes e empresas valorizem o bem-estar dos colaboradores, disponibilizando apoio psicológico contínuo, mentorias e programas de autocuidado. Empresas que investem nisso verificam maior produtividade e colaboradores mais satisfeitos.

COMO VÊ O FUTURO DA SAÚDE MENTAL EM PORTUGAL NOS PRÓXIMOS CINCO ANOS?

Um cenário ideal seria o acesso rápido e universal a consultas de psicologia e psiquiatria, de forma integrada. A educação emocional desde cedo é fundamental: crianças que aprendem a reconhecer e gerir emoções tornam-se adultos mais resilientes e equilibrados. As empresas, autarquias e comunidade em geral têm um papel importante em promover planos de bem-estar contínuos. Um investimento consistente nesta área traria pessoas mais saudáveis e uma sociedade mais solidária.

QUAL É A MENSAGEM FINAL SOBRE O DIA MUNDIAL DA SAÚDE MENTAL?

Deveríamos falar sobre saúde mental todos os dias, não apenas num dia específico. Quando temos problemas, devemos procurar ajuda e apoio contínuo. O Dia Mundial da Saúde Mental é importante, mas o verdadeiro impacto acontece quando esta consciência se mantém ao longo de todo o ano.